quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Pequeno Conto (Trabalho sobre Leucemia)

Tinha andado a pensar se deveria contar ou não acerca do que se passava, tinham aparecido umas manchas estranhas no meu corpo e eu tinha a certeza que não me tinha magoado naquele sítio, pois era difícil ter batido com as costas e não sentir. De início tive medo de contar à minha mãe sobre o sucedido, pois ela começaria logo a ficar preocupada. Quando finalmente chegou o dia em que já não sabia o que fazer, cheguei perto da minha mãe e disse-lhe que tinham aparecido umas manchas estranhas nas minhas costas e a primeira reacção dela, foi subir-me a camisola e ver o que realmente tinha. Como não sabia, decidiu marcar uma consulta no médico.

Entretanto fui às aulas e quando me deparava com as aulas de Educação Física, toda a gente me perguntava o que eu tinha nas costas, e eu já farta de dizer que não sabia o que era, fui repetindo o mesmo, até que chegou o dia da consulta.

No dia D, a resposta do médico foi a de “Não sei o que se passa”, mandando-me assim fazer exames. Sendo sincera, detesto exames, detesto ter de faltar às aulas e detestava ter de levar com os médicos sempre a perguntar “Então, o que te aconteceu?”, a minha paciência também tem os seus limites.

Quando chegou a hora de fazer o exames, fizeram-me o impossível. E eu pensando que nunca iria passar por aquilo tudo.

Durante o processo, continuei a levar com as mesmas questões e com os mesmos olhares como se fosse uma extraterrestre, cada vez me sentia mais olhada nos balneários. Nunca tinha pedido tanto para saber a resposta à questão “O que tenho?”, e desejava cada vez mais que me dessem a medicação necessária para que aquelas manchas desaparecessem de uma vez por todas.

O dia “glorioso” finalmente chegou e então dirigi-me ao hospital mais uma vez, acompanhada pela minha mãe. Fomos buscar os exames e eu estava mais feliz do que nunca, sabendo que nunca mais seria olhada como um bicho.

Quando finalmente chegou a nossa vez, entramos no consultório e vimos o médico com uma cara pouco satisfeita, como se alguém estivesse ali a morrer. Esboço um sorriso irónico na hora e sento-me bem na sua frente.

O médico olha para mim e para a minha mãe com uma cara indignada. A minha mãe nota a sua expressão e um pouco nervosa, pergunta:

- O que se passa? O que a minha filha tem? Não é nada de grave pois não?

- Calma mãe, não é preciso tantas perguntas – levanto-me envergonhada, olhando seguidamente para o médico, esperando a sua resposta.

Do nada, com uma expressão forte, eu e a minha mãe deparamo-nos com “A sua filha tem Leucemia Crónica”. O meu corpo petrificou… Não tive qualquer tipo de reacção. A minha mãe desatou a chorar apavoradamente sem saber se tinha cura ou não, apenas insinuou que os exames estavam errados, mas poucas eram as probabilidades para tal acontecer.

Eu permaneci calada durante bastante tempo, não tinha mais nada para dizer, sei perfeitamente que ia necessitar de um doador compatível, mas quem? Depois de tantos pensamentos que circundavam o meu pensamento, levantei-me e saí da sala, sem ninguém, sem nada e sem mais o que pensar. A minha vida pela primeira vez estava por um fio, sem que eu notasse já estava a morrer por dentro e sem esperar, recebo uma notícia da qual interpreto “Podes morrer a qualquer momento!”.

Sigo para fora do hospital e sento-me… Tentando conter tudo o que havia dentro de mim, prestes a descambar a qualquer momento, morri, morri de choro, as lágrimas caiam pela minha face a baixo sem qualquer permissão… “O que vou fazer” pensava eu em todos os momentos.

A minha mãe permaneceu ainda algum tempo dentro do hospital, ouvindo o médico a explicar o que era a Leucemia Crónica, ficando a saber nesse mesmo momento que com ou sem doador, raramente tinha cura.

Tudo o que passei, todos os meus momentos felizes, tudo com que sonhei, apenas virou um caos, não havia mais nada o que pensar, não havia mais nada para sonhar… Pois tudo seria em vão.

A minha mãe saiu do hospital e não disse mais nada para além do “Vamos para casa”. Como precisava de um abraço naquele momento. Aquele simples vamos para casa tocou bastante no coração, tomando a forma de palavras frias, mas ao mesmo tempo com um toque de solitárias.

Seguimos o caminho e fomos para casa.

Quando finalmente chegamos, corri para o meu quarto, atirando-me para a cama bruscamente.

Afinal quem era a doente? Eu ou ela? É APENAS A MINHA VIDA! Posso parecer egoísta, mas mais que nunca eu precisava do consolo e da companhia da minha família.

A partir do irónico “dia glorioso” nada voltou a ser o mesmo, tudo continuou e eu não me adaptei a nada.

Na escola as minhas grandes amigas continuavam a preocuparem-se, dizendo inocentemente um “Tens de cuidar dessas pisaduras”, e eu como não lhes contei, ria como se nada fosse… Mas os meus olhos só queriam chorar.

É difícil enganar o que sentimos e fingir quem não somos.

Para além das ironias da minha vida, as rotinas… O divertimento foi cortado para que eu morresse de desespero em vez de Leucemia. Nunca mais voltei a sair com os meus amigos por causa dos tratamentos. Andava farta das quimioterapias, imunoterapias ou lá como se chamavam, sendo algo desinteressante que não faria nada!

Sinceramente… preferia viver a vida normalmente até que o dia chegasse.

Ninguém pensou da mesma maneira do que eu e então continuei a deitar o resto dos meus dias num caixote de lixo de um hospital.

Já sabia que mais cedo ou mais tarde ia morrer. Para quê ter ersperanças, quando o meu corpo já começa a falhar?

Dias passaram e prenderam-me a uma cama, estaria peto de ver o que há para além do nosso simples mundo.

Como não posso fazer mais nada, escrevo um pouco da minha experiência, tendo esperança que isto não se repita com ninguém, pois não desejo o que sofri. Estar impossibilitada de tudo o que tinha antes é o pior presente que me poderam dar.

Quando sentirem que algo está estranho nas vossas vidas, não exitem e falem.

Eu já não tenho medo, pois a única mágoa que ficará presente é o sofrimento das pessoas que amo, mas sei que será temporário, pois tudo se ultrapassa.

E aos poucos vou fechando os olhos para o Sol

Lembrando-me que o amanhã será um novo dia

E tendo esperança em alguém que lerá o meu

“Pequeno Conto”

Eliana Ferreira

Sem comentários: